quinta-feira, julho 07, 2005

SÓCRATES - 5 , SIC - 0

Na entrevista do Primeiro-Ministro (PM) à SIC foi surpreendente o resultado: 5-0. O desenrolar do jogo mostrou um PM determinado, querendo fazer golos de qualquer modo. Mesmo com faltas. Um PM decorador. Com os assuntos bastante bem decorados (como é nele usual). Mas, também, decorando a sua intervenção com fantasias (são sempre belos adornos). Mesmo que falsas. Por outro lado, a equipa da SIC esteve sem chama. Não fez uma jogada de jeito. Não atacou, nem soube defender. Uma lástima, verificável pela forma como o PM obteve os seus golos:
1-0 : Quando o PM anunciou o TGV como obra fundamental do nosso futuro. Nenhum dos jornalistas perguntou quais as estimativas de passageiros que estão previstas, nesse futuro, para rentabilizar o investimento. E, se algum dia, a obra será paga pelos utilizadores. E, se o PM sabe quanto custará a sua manutenção anual.
2-0 : Ao considerar o aeroporto da OTA como indispensável, nenhum dos jornalistas perguntou ao PM se tinham sido levadas em conta as profundas alterações que a nova forma aérea de viajar está a provocar em todo o mundo. Voos de baixo custo. Companhias aéreas com serviços mínimos. Utilização dos aeroportos mais baratos. Mangas por utilizar nos grandes aeroportos, para embaratecer as taxas.
3-0 : Em total fora de jogo, o PM apontou novo golo quando justificou algumas excepções para a reforma da função pública aos 65 anos, referindo a necessidade de ter em conta o tempo de serviço. Para justificar esta sua opinião, disse uma asneira: que há funcionários públicos que iniciaram a sua carreira aos 14 anos. Nenhum dos jornalistas lhe referiu que só aos 18 anos aqueles são admitidos. Desde sempre.
4-0 : Golo marcado com a mão e a vista grossa dos árbitros. Continuamente (pelo menos 3 vezes), o PM referiu a previsão do déficit como sendo de 6,83, quando o Banco de Portugal já tinha rectificado esse valor (errado), para 6,72. Nenhum dos jornalistas lhe chamou a atenção para esse facto.
5-0 : Golo marcado na própria baliza pelos jornalistas que, em várias vezes, sem saber o que fazer com a bola (neste caso as perguntas), olhavam um para o outro, faziam gestos com a cabeça, indecisos, demonstrando uma total falta de à vontade com o entrevistado. Como o actor que se esqueceu da "deixa".
No final, com tão esmagador resultado e tão fraco jogo, pouco competitivo, ficou o fair-play de um jogo demasiado fraternal. E lá diz o ditado, Ricardo Costa: À mulher de César, não basta ser. É preciso parecer.

segunda-feira, julho 04, 2005

CANDIDATOS DISPENSADOS

Diariamente, sou surpreendido com notícias que empobrecem o meu conceito sobre os políticos. Os de hoje, mas, também, alguns de ontem. São orçamentos errados; estudos que se presumiriam exactos, com erros; são as permanentes provocações e faltas de educação de um responsável de uma região de Portugal; é a falta de vergonha de quem promete em período eleitoral uma coisa para depois fazer outra (argumentando um desconhecimento sobre a situação do país que - a ser verdade - o tornaria incapaz como candidato), etc. Tudo isto se vai aguentando. Mas, hoje, ao saber que os candidatos autárquicos, não só os efectivos mas também os suplentes, são dispensados, durante um mês, das suas obrigações profissionais, privadas ou públicas e são pagos pela sua entidade patronal, senti que há muito nas decisões políticas, tomadas ao longo dos anos que se vão mantendo em sigilo, num conluio entre políticos e a comunicação social que envergonha o país na sua totalidade. É que os políticos que produzem monstruosidades destas são eleitos por todos nós. E a comunicação social, que não comenta (em tempo útil) nem insiste na divulgação destes atentados ao bom senso e à moral política, só existe porque nós compramos os seus jornais, vemos os seus canais de televisão e ouvimos os seus programas de rádio.
Continuo a afirmar que o principal problema de Portugal é de competência. Também esta tem sido dispensada.