sexta-feira, novembro 16, 2007

Um Nado-Morto

O “Tratado Europeu” é um nado-morto. Considerando que o último ventre que o acolheu foi Lisboa e que é aqui que irá morrer. Na próxima terça feira, dia 20. Quando Sócrates se encontrar com Hugo Chávez. Antes da assinatura formal, em Dezembro, que marcaria o seu nascimento. Com Sócrates a presidir. O mesmo de terça-feira. Ou seja, aquele que se regozija por, nós, cidadãos europeus, passarmos a ter um tratado que, entre outras coisas, diz isto:

Artigo J.1
1. A União e os seus Estados-membros definirão e executarão uma política externa e de segurança comum, regida pelas disposições do presente Título e extensiva a todos os domínios da política externa e de segurança.
2. Os objectivos da política externa e de segurança comum são: - a salvaguarda dos valores comuns, dos interesses fundamentais e da independência da União; - o reforço da segurança da União e dos seus Estados-membros, sob todas as formas; - a manutenção da paz e o reforço da segurança internacional... - o fomento da cooperação internacional; - o desenvolvimento e o reforço da democracia e do Estado de Direito, bem como o respeito dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais.
3. A União prosseguirá estes objectivos, mediante: - a instituição de uma cooperação sistemática entre os Estados-membros na condução da sua política...
4. Os Estados-membros apoiarão activamente e sem reservas a política externa e de segurança da União, num espírito de lealdade e de solidariedade mútua. Abster-se-ão de empreender quaisquer acções contrárias aos interesses da União ou susceptíveis de prejudicar a sua eficácia como força coerente nas relações internacionais. O Conselho zelará pela observância destes princípios.


Os sublinhados são meus. Definem o que acho serem as afrontas, ao tratado em avançada gestação, que irão ser praticadas pelo 1º Ministro português, na próxima terça-feira. A mesma pessoa que se orgulhou da sua aprovação. A mesma pessoa que a 13 de Dezembro organizará uma festa, com grande pompa, aquando da sua assinatura. A mesma pessoa que nos irá pedir para aprovarmos o tratado, em nome do interesse nacional e do imprescindível futuro da Europa. Isto, se for um homem de palavra!

Não, de facto, este homem não é um “gajo porreiro”.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Em Serralves. Um momento belíssimo.

Hoje, em Serralves, vivi um momento belíssimo. Aguardava as palavras de apresentação do novo livro de Júlio Machado Vaz que tinha acabado de adquirir. Para levar comigo o autógrafo da praxe e um naco de boa leitura garantida. Olhei para a capa e sorri. O primeiro pensamento foi para a cor predominante sobre o fundo branco. Vermelhos. Desde o quase-cor-de-rosa ao vermelho acastanhado. Associadas ao título, as cores, levavam-nos a “O Amor É... o Benfica”, tão ao jeito do Autor. Virei o livro e vi um texto na contra capa. Refiz o gesto e pousei o olhar novamente na capa. Não, os vermelhos são de sangue. Do sangue que flui e aquece os amores. Do sangue que gela quando o amor se vai. E os cubos, aqui e ali desencontrados, sinais da imperfeição do amor. Com fendas entre eles. Fendas por onde o amor se esvai. Amor periclitante. Assente num único cubo. Que representa o quê? O início? Bela capa. Que, na sua singeleza, nos interroga profundamente. Voltei à contra capa. A apresentação ainda não se iniciara. Pude, assim, ler o belíssimo trecho do livro que tinha em mãos. Nove magníficas linhas. Do melhor que tenho lido e que reproduzo. Só ao alcance de um grande escritor. Isto, acho eu.

“(... O que é o amor? Não sei. Talvez o sangue da memória, não há presente ou futuro quando o passado perdeu calor e seiva. Raízes mortas não geram troncos direitos, abrindo-se em ramos, braços, flores e risos que ambicionam o alto. Os esquálidos moinhos da Cabreira giram devagar. Poupam forças, o Quixote tarda. Nada posso fazer. Pertenço à estirpe do céptico Sancho, viajo à boleia da louca grandeza contida em livros ou canções, como na rádio, mas com os pés bem assentes na terra.
E, no entanto, seria capaz de jurar que um vulto se move ao longo do riacho...”


In O Amor É...

Deixei, feliz, Serralves. Feliz, por saber que Portugal tem gente assim. Feliz, por saber que as “falas” do Professor Júlio, apoiado na Ana e no António, ajudaram e ajudam muitos a serem, diariamente, mais felizes.

O Amor É... Isto