quarta-feira, abril 25, 2007

A Importância dos Aniversários

Um dia de aniversário deveria ser, sobretudo, um dia de reflexão.
Observando o passado e a forma como se desenvolveu.
Sentindo o presente. Onde estamos. Com quem estamos. Como estamos.
Idealizando o futuro. Como seremos. Com quem estaremos. Onde chegaremos.
Fazê-lo seria, quanto a mim, tão útil à vida de cada indivíduo, como ao País.

Decorridos 33 anos, se observarmos Portugal, temos um país muito diferente. Para melhor. Alguns dirão não se saber onde estaríamos sem a revolução. Sempre pior, afirmo. Sem liberdade. Esse bem inegociável em troca de bem-estar.

O patamar de expectativas, de cada um dos portugueses, aumentou. Para níveis idênticos ao dos países mais avançados. Pena que, a educação e a formação não tenham inculcado, em cada um, a noção de que a um patamar alto de expectativas se deve, obrigatoriamente, associar um muito elevado grau de exigência no desempenho. Esse terá sido o problema maior das três últimas décadas. O desleixo, a incúria, o “facilitismo” e oportunismo do “Monstro Educativo” explicam onde estamos hoje. As escolas têm como professores muitos dos seus “filhos”. As empresas são geridas por muitos dos seus “abortos”. Na política abundam os seus “ejaculados”.

Hoje, cidadãos da UE, não temos facilitada a identificação com o conjunto onde estamos inseridos. O alargamento da Europa, demasiado rápido e, por isso, feito em desiquíbrio permanente, pode conduzir a uma visão futura de “Monstro Europeu”. Difícil de identificar como corpo único, no qual todos os países se revejam. Onde há o perigo de o poder de uns, um dia, introduzir níveis diferentes de autoridade participativa, para cada dos restantes países. E aí, a perda de autonomia, significará a diminuição de alguma liberdade.


Um futuro recheado de sombras é demasiado evidente. Confrontados com uma vivência global, que continuará a elevar o nível de expectativas de cada português, seremos o que resultar da luta contra o “Monstro Educativo”. De como se vier a desenvolver o “Monstro Europeu”.

O primeiro desafio só depende de nós. O segundo é mais difícil, porque depende também de nós, mas pouco. Sem se atingir um e outro o aniversário do 25 de Abril será, cada vez mais, um dia de alegria passada. Um dia que trouxe a liberdade, mas aumentou o “Monstro da Desigualdade”. Que urge combater. É que a desigualdade foi sempre o maior inimigo da liberdade.

domingo, abril 22, 2007

Incoerências

Na “Pública” de hoje, vem publicada uma entrevista a Gabriela Moita. Conhecida dos portugueses, pela participação no programa “Estes Difícies Amores” em parceria com Júlio Machado Vaz. Nessa interessante entrevista refere, a dado passo,

“...já não acreditar que um dia se faria Educação Sexual nas escolas”.

Diz ainda:

“Eu detestaria, não aceitaria mesmo, que ensinassem à minha filha um modelo onde só aparecessem um homem e uma mulher, porque acharia que lhe estavam a sonegar informação e, portanto, iria à escola dizer que estão a ensinar à minha filha coisas que não são a verdade do mundo. E admito que outra mãe diga exactamente o contrário”

E continua:

“...o que me parece que resolveria este problema era dizer: temos aqui a Educação Sexual com um modelo ideológico aberto, que não impõe nenhum modelo, e depois noutra sala uma Educação Sexual dirigida a uma só moral.”.

Para concluir:

“ Como é que o Estado vai resolver este problema? É muito complicado”

Mas onde está a dificuldade? Na maioria das restantes áreas educativas existem modelos variados. Teorias que se confrontam. Conclusões subjectivas. Ao educador compete apresentar, de acordo com o programa aprovado, as várias teses e torná-las disponíveis ao formando de forma a que este possa construir o seu próprio conhecimento. Há riscos de parcialidade do educador por um ou outro modelo? Claro. Mas isso é algo impossível de evitar. E que não nos deve paralisar.

Num outro momento e a propósito de filmes onde “...lá estão as regrazinhas todas morais a orientar, a orientar. Então com os filmes de crianças eu venho sistematicamente furiosa.” diz Gabriela Moita:

“ Quero passar-lhe (à filha de nove anos) de que existe um espartilho e que ele pode não ser usado mas também tenho presente que isso é uma opção dela. ... que seja escolha e não obrigação. Agora não posso impor um modelo e abertura, porque não se deve dizer a ninguém para onde deve ir.” Tudo correcto até aqui, mas de seguida diz:

“ Não tenho televisão em casa.... avariou-se.... A grande mudança foi com a minha filha que deixou de acordar às sete da manhã, ao sábado e ao domingo, para ver os bonecos animados. Às vezes, tínhamos um braço de ferro lá em casa também porque, ao fim de semana era difícil tirá-la lá de casa para andar de bicicleta ou andar de patins e agora já não é tanto”

Mas então e a opção da filha? Afinal deve ou não dizer-se para onde deve ir? E a escolha pelos bonecos? E a obrigação da bicicleta e dos patins? E a sonegação da televisão?

É pena que o registo tenha mudado. Incoerências de mãe. Discordâncias de família com a sexóloga.

quinta-feira, abril 19, 2007

A Propósito de Teresa de Sousa

Assiste-se, neste momento, em Portugal a dois tipos de atitude por parte de jornalistas, comentadores ou blogueres:

a) Desprestigiar José Sócrates usando qualquer documento, imprecisão ou erro, antes mesmo de averiguar da sua veracidade quanto à implicação directa do Primeiro-Ministro;

b) Enaltecer José Sócrates, fazendo tábua rasa da importância de valores e princípios para quem ocupa o cargo de Primeiro-Ministro, conjugada com a distorção do que realmente está em causa.

No artigo publicado ontem no “Público”, pela conceituada jornalista Teresa de Sousa (que admiro), assiste-se a um caso do tipo b).

Por um lado, salienta o elevado conceito, hoje existente na sociedade americana, sobre Clinton. Isso, apesar de Clinton ter cometido perjúrio. Esquece-se Teresa de Sousa de que, com enorme humildade, o então Presidente americano se dirigiu ao povo do seu país e assumiu que mentira. Pediu perdão por isso. Ou seja, teve carácter.

Por outro lado, Teresa de Sousa deturpa a verdadeira razão da dúvida sobre a falta de carácter do Primeiro Ministro. O problema não está nas suas opções de carreira académica. Decorre, sim, de ter tido ou não favores para a completar. Coisa esta que não está explicada. E que a prestação de José Sócrates na televisão não conseguiu esclarecer.

E, já agora, para José Sócrates a prova de televisão não era difícil. O seu traquejo é grande e de há muito tempo. Provavelmente, com mais tempo de aulas do que as que se diz ter frequentado na UnI.

E, quanto à convicção da prestação televisiva do Primeiro Ministro, de que Teresa de Sousa fala, tanto pode provir de alguém que diz sempre a verdade, como de alguém que julga não ser apanhado na mentira.

quarta-feira, abril 18, 2007

A Propósito do "Expresso"

O jornal, na sua última edição, desenvolvia uma análise subordinada ao título “Os 15 maiores erros de política económica”. A subjectividade da escolha – condicionada por serem erros desde 1985 e pela visão dos dois analistas – não tem nada de anormal. Embora me pareça estranho que não exista qualquer referência a um dos principais erros cometidos por políticos e empresários: a má aplicação por muitas empresas dos fundos comunitários recebidos, com a aceitação fácil dos políticos responsáveis pelo seu controlo.

Esbanjaram-se fundos recebidos para a modernização das empresas. Para a requalificação dos seus trabalhadores. Sem que o Estado se empenhasse seriamente em verificar o cumprimento das metas que “belíssimos” projectos de investimento garantiam. Sem que o Estado utilizasse as entidades ligadas à educação para garantir a qualidade e controlar os efeitos dos “lindíssimos” e “altamente burocratizados” programas de formação em que se irmanaram empresas, associações de empresários e sindicatos.

Analisados os 15 erros relatados, verifica-se a seguinte atribuição de “culpados”:

Cavaco Silva - Salários do Estado
António Guterres - Barragem de Foz Coa
Cavaco Silva/António Guterres/Sousa Franco - Moeda Única
António Guterres/Sousa Franco - Financiamento da Ponte Vasco da Gama
António Guterres/José Sócrates - SCUT
António Guterres/Sousa Franco - Venda imoral de Champalimaud ao Santander
António Guterres/Sousa Franco - Admissões em massa de funcionários públicos
António Guterres - Estádios do Euro 2004
António Guterres - Sustentabilidade da Segurança Social
António Guterres/Pina Moura - Congelamento do preço dos combustíveis
António Guterres/Pina Moura - As políticas e objectivos da GALP
António Guterres/Sousa Franco - Aumento da participação da Sonae na Portucel
António Guterres - Metro no Terreiro do Paço
António Guterres/Sousa Franco/Pina Moura - Brinde fiscal à Petrocontrol
António Guterres/Pina Moura - Rejeição participação EDP na Unión Fenosa

Ou seja, a participação nos erros é como segue:

Cavaco Silva ..............2 erros
António Guterres .... 14 erros
Sousa Franco.............6 erros
Pina Moura ................4 erros
José Sócrates ...........1 erro

Estes resultados traduzem bem o que de há muito se sabe: os principais responsáveis pela situação em que Portugal se encontra são os governos de António Guterres, com a coparticipação dos seus ministros das finanças e economia Sousa Franco e Pina Moura.

Infelizmente, alguns dos que agora constatam essa situação foram no passado grandes apoiantes desses governantes. Neles se inclui Nicolau Santos, co-autor do artigo. Estranho? Não. Creio que, daqui a alguns anos, estará a fazer o mesmo em relação ao actual governo!

terça-feira, abril 17, 2007

A Propósito de Nicolau Santos

No seu artigo “Cem por Cento”, publicado no último “Expresso”, Nicolau Santos defende, indirectamente, o seguinte: a ética, o carácter e a seriedade moral dos políticos não são valores a ter em conta na sua avaliação. Nem na legitimidade do seu mandato. Como se demonstra.

Assumindo que há uma imagem de paralização governativa, Nicolau Santos pretende que a entrevista de Sócrates tenha sido o ponto final no assunto de forma a que “o Governo volte a governar”. Mesmo considerando que, como bem afirma Nicolau Santos, existam “várias perguntas por esclarecer e ideias que se confirmaram”. E, para ser mais explicíto, Nicolau Santos diz quais:

1 – O curso de Sócrates vale pouco, foi concluído numa universidade com pouca credibilidade e ele nunca pensou em exercê-lo.
2 – Não aceita o argumento de Sócrates sobre o processo informal de equivalências, referindo que serem estas definidas com base na palavra do aluno, não é possível em nenhuma universidade que se preze.
3 – Afirma, preto no branco, que Sócrates pretendeu passar por aquilo que não era e, mais tarde, arrependido, corrigiu o currículo na Assembleia.

Ou seja, para Nicolau Santos, o Primeiro-Ministro:
· Enganou-nos quando afirmava a importância dos seus estudos superiores;
· Foi imoral ao dar como sério o processo usado, por si, para obtenção de equivalências;
· Foi irresponsável ao definir a Universidade Independente como entidade idónea, nessa época;
· Teve conduta eticamente reprovável ao usar, oficialmente e com plena consciência, título a que não tinha direito.

Apesar de todas as conclusões a que chega, Nicolau Santos conclui que, as possíveis dúvidas sobre o carácter de Sócrates ou traços de personalidade só agora evidentes não interessam. Diz ele que a legitimidade do Primeiro-Ministro vem das eleições em que foi eleito.

Para Nicolau Santos, Sub-Director do semanário de maior expansão do país, qualquer cidadão pode desempenhar o cargo executivo de maior responsabilidade do país. Só precisa de ser eleito pela maioria. Se, após essa eleição, se vier a saber que pode não ter ética, pode não ter carácter, pode não ter seriedade moral, isso não importa. Os interesses da governação tudo justificam.

Pobre país que tais filhos gerou.

quarta-feira, abril 04, 2007

Um Limite de Idade Escandaloso

As dificuldades com a sustentação da Segurança Social, motivaram uma série de alterações relativas à idade mínima para a reforma. Aumentando esse limite para níveis mais adequados à actual esperança matemática de vida. O que se aplaude.

Sem dúvida, quando hoje olhamos para um cidadão ou cidadã com 50/60 anos, o quadro mais corrente é apresentarem sinais de afastamento da velhice, quer no aspecto físico, quer nos comportamentos sociais.

Num quadro destes, é de esperar que as entidades governamentais criem condições e desenvolvam estímulos na sociedade civil, para que ao prolongamento da actividade estejam associadas oportunidades de as desenvolverem.

Será que isto está a ser feito? Alguns sinais, dizem-me que não. Pelo menos, com a intensidade conveniente que a gravidade futura do problema representará se tal não for considerado prioritário! Um desses sinais é o de continuar a ser permitido que os anúncios de emprego refiram limites de idade. É evidente que quem contrata, tem todo o direito de fazer a escolha de acordo com os parâmetros que considera mais adequados ao preenchimento da vaga em causa. Mas, tal como se está impedido de discriminar o género, parece ser de seguir o mesmo critério para a idade.

Tudo isto vem a propósito de uma situação aberrante e que diz respeito ao anúncio do Prémio Literário José Saramago publicado em alguns jornais. Nele, o Regulamento diz a dado passo isto: “O Prémio distingue uma obra literária no domínio da ficção, romance ou novela, escrita em língua portuguesa, por escritor com idade não superior a 35 anos, ....”. O anúncio é subscrito pelo Ministério da Cultura!

Pasme-se! Não só se limita a idade de produção literária capaz, como se define uma idade que é muito típica nos anúncios que já não querem “velhos” com 36 anos ou mais anos! Com o apoio do Governo que entende - e bem - que os portugueses devem trabalhar até mais tarde.

Mas, escândalo, verdadeiro escândalo é que o dito prémio use o nome de um escritor cuja primeira obra divulgada é um poema que publicou aos 44 anos! E o primeiro romance foi publicado com 55 anos!! E o primeiro livro que foi um grande êxito e, porventura, a primeira chave para o prémio Nobel (Memorial do Convento) deu à luz quando o escritor tinha 60 anos.

Eu gostava de olhar para Portugal com esperança e não com fé. É que a primeira, está apoiada na qualidade dos homens que têm como missão governar. A todos os níveis. A segunda, está suportada nos milagres.
Confesso que, não acreditando em milagres, julgo que só lá iremos com alguns.