quarta-feira, novembro 14, 2007

Em Serralves. Um momento belíssimo.

Hoje, em Serralves, vivi um momento belíssimo. Aguardava as palavras de apresentação do novo livro de Júlio Machado Vaz que tinha acabado de adquirir. Para levar comigo o autógrafo da praxe e um naco de boa leitura garantida. Olhei para a capa e sorri. O primeiro pensamento foi para a cor predominante sobre o fundo branco. Vermelhos. Desde o quase-cor-de-rosa ao vermelho acastanhado. Associadas ao título, as cores, levavam-nos a “O Amor É... o Benfica”, tão ao jeito do Autor. Virei o livro e vi um texto na contra capa. Refiz o gesto e pousei o olhar novamente na capa. Não, os vermelhos são de sangue. Do sangue que flui e aquece os amores. Do sangue que gela quando o amor se vai. E os cubos, aqui e ali desencontrados, sinais da imperfeição do amor. Com fendas entre eles. Fendas por onde o amor se esvai. Amor periclitante. Assente num único cubo. Que representa o quê? O início? Bela capa. Que, na sua singeleza, nos interroga profundamente. Voltei à contra capa. A apresentação ainda não se iniciara. Pude, assim, ler o belíssimo trecho do livro que tinha em mãos. Nove magníficas linhas. Do melhor que tenho lido e que reproduzo. Só ao alcance de um grande escritor. Isto, acho eu.

“(... O que é o amor? Não sei. Talvez o sangue da memória, não há presente ou futuro quando o passado perdeu calor e seiva. Raízes mortas não geram troncos direitos, abrindo-se em ramos, braços, flores e risos que ambicionam o alto. Os esquálidos moinhos da Cabreira giram devagar. Poupam forças, o Quixote tarda. Nada posso fazer. Pertenço à estirpe do céptico Sancho, viajo à boleia da louca grandeza contida em livros ou canções, como na rádio, mas com os pés bem assentes na terra.
E, no entanto, seria capaz de jurar que um vulto se move ao longo do riacho...”


In O Amor É...

Deixei, feliz, Serralves. Feliz, por saber que Portugal tem gente assim. Feliz, por saber que as “falas” do Professor Júlio, apoiado na Ana e no António, ajudaram e ajudam muitos a serem, diariamente, mais felizes.

O Amor É... Isto

6 comentários:

A Menina da Lua disse...

JFR

Muito tocantes estas suas palavras sobre o livro...

Sorte a sua! ser capaz de sentir dessa maneira e de ver o que realmente e profundamente nos move durante esta breve passagem por aqui...

E por isso diz:

"Do sangue que flui e aquece os amores. Do sangue que gela quando o amor se vai"

Gostei! e partilho muito do que diz:)

JFR disse...

a menina da lua:

Obrigado pelas suas palavras. Tenho pena que tenha deixado de escrever no Murcon. Se outra razão não existir para que volte, deixo-lhe esta: faz falta.

Um Xi
José Rocha
josefrocha@netcabo.pt

GS disse...

Acredite que tive imensa pena de não poder comparecer :)
Até porque já tenho saudades de ouvir 'live' JMV naquele seu jeito muito simpático e 'pachorrento'!

Boa-noite!

Ana Loura disse...

Gostei muito do post. Vou contunuar a passear-me por aqui

Beijo

JFR disse...

Fragmentos culturais:

Obrigado pelo seu comentário. Os seus fragmentos, são como aquelas migalhas que nunca deixamos fugir. Pelo bem que sabem!

Lua dos Açores:

Obrigado pelos seus comentários. Fiz uma visita aos Açores e ouvi, a que considero ser a melhor versão dessa excepcional música de Chico Buarque, cantada pela Elis Regina. Obrigado, também, por isso.

Anónimo disse...

passagens num tempo já vivido por si...mas que tocam pela sensibilidade, pelo entrar dentro das palavras e decifrar o que n se explica, o que está para lá das palavras, de tudo o que foi escrito sobre o Amor...
As falas e os escritos do Professor Julio Machado Vaz, tem esse efeito de nos enrolar no essencial, de nos comover, de nos lembrar-mo-nos de que somos pessoas e não máquinas de produção eficaz...sim porque estamos na época da civilização de linguagem economista...economês...gerir emoções, processar informação, sei lá...tudo menos a poesia de pisar folhas de outono, de olhar as estrêlas...e ter momentos de possivel felicidade...