Um país sem prioridades
Li e ouvi, respectivamente no Público e na Antena 1, uma notícia absolutamente fantástica de que o Ministério da Saúde estaria a negociar eventual apoio às cirurgias de colocação de bandas gástricas. O custo destas intervenções pode atingir 8 500 €. E o dito ministério propõe-se pagar integralmente, cada uma das operações. Isto realizado em clínicas privadas, já que, nos hospitais públicos, a lista de espera pela cirurgia é de sete anos.
Para além dos desvios possíveis de quem, não sendo excessivamente obeso, utilizaria essas condições para recorrência a melhorias estéticas, pergunto como é possível a preocupação do Governo com um assunto cuja importância relativa é muitíssimo menor do que muitos outros problemas de saúde existentes no nosso país.
Se exemplos faltassem, demonstrativos de que a falta de bom senso na definição de prioridades é uma característica dos nossos governantes (e não exclusivamente dos actuais), bastará saber o que o Estado faz, ou melhor não faz, nos casos de doentes de Alzheimer. Segundo o blogue Murcon, são 70 mil em Portugal. Destes, 46 mil não têm qualquer tipo de assistência. São gente sem remédios! São gente sem as terapias aconselhadas! São gente sem condições para comprar fraldas! São gente sem acesso a lares, por estes, em muitos casos, se recusaram a receber doentes de uma segurança social que lhes não paga a tempo e horas!
Perante isto, não posso deixar de perguntar se os nossos governantes, deputados e demais políticos, sabem, compreendem e interiorizam a nobreza da função que exercem?
E, pergunto ainda, se estudam e aprofundam cada uma das propostas que lhes são feitas. De forma a decidirem no sentido que a responsabilidade que os contribuintes pagadores do seu salário impoe.
Há prioridades que determinam que certas matérias, em certos momentos, nem sequer sejam aceites para análise e discussão (é o que se deveria passar com as bandas gástricas). A bem de um conjunto de matérias ainda tão mal tratadas ou esquecidas (é o que passa com o Alzheimer).
Governar é, essencialmente, gerir com recursos escassos as prioridades de realização. Portugal deve muito do seu atraso e difiiculdades à ausência deste tipo de competências na grande parte dos nossos governantes, deputados, autarcas, empresários, sindicalistas, juízes e demais decisores.
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