sexta-feira, janeiro 05, 2007

Inovar é preciso mas, ... da forma certa!

Acabei de ouvir, na RTP1, um concerto de Mariza. Realizado em Lisboa, capital do fado. Mariza é dona de uma voz excepcional, de uma capacidade de soletrar cada sílaba, na nota que lhe compete, de se identificar com cada palavra e lhe dar o gesto adequado. Inclui, ainda, no seu repertório uma aptidão rara de cantar “à capela”.

Neste espectáculo, tinha como convidado especial um violoncelista, ao que suponho, de nomeada. Integrado numa orquestra. Ao ar livre, com a Torre de Belém em fundo e uns milhares de pessoas a assistir.

Pobres assistentes. Se iam à espera de uma noite de fado, vieram tristes. Como o negrume da noite que os acobertava. Não pela vivência do fado, mas... pela sua ausência!

É que, aquilo que poderia ser um momento magnífico numa sala de concerto, transformou-se em algo ininteligível. Então, quando se ouviu um fado, apenas acompanhado pelo violoncelo, foi um desastre total. Se, em televisão, o resultado foi fraco, como terá sido ao vivo?

Se se pretende uma experiência inovadora que exista o cuidado de a realizar no espaço correcto. Gravar fado em CD, com o acompanhamento de uma orquestra sinfónica, pode ter um belo efeito (Paulo de Carvalho produziu, dessa forma, um disco excepcional), mas realizar um concerto ao ar livre, com orquestra sinfónica, solos de violino, acompanhamento exclusivo de violoncelo ... é um disparate.

O fado precisa de guitarras e de violas! Como norma. Num concerto popular, ao ar livre, ainda mais!

Como é muito característico em Portugal, o lado estético afunda-se, algumas (ou muitas) vezes, pela sua aplicação disfuncional.

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