domingo, abril 22, 2007

Incoerências

Na “Pública” de hoje, vem publicada uma entrevista a Gabriela Moita. Conhecida dos portugueses, pela participação no programa “Estes Difícies Amores” em parceria com Júlio Machado Vaz. Nessa interessante entrevista refere, a dado passo,

“...já não acreditar que um dia se faria Educação Sexual nas escolas”.

Diz ainda:

“Eu detestaria, não aceitaria mesmo, que ensinassem à minha filha um modelo onde só aparecessem um homem e uma mulher, porque acharia que lhe estavam a sonegar informação e, portanto, iria à escola dizer que estão a ensinar à minha filha coisas que não são a verdade do mundo. E admito que outra mãe diga exactamente o contrário”

E continua:

“...o que me parece que resolveria este problema era dizer: temos aqui a Educação Sexual com um modelo ideológico aberto, que não impõe nenhum modelo, e depois noutra sala uma Educação Sexual dirigida a uma só moral.”.

Para concluir:

“ Como é que o Estado vai resolver este problema? É muito complicado”

Mas onde está a dificuldade? Na maioria das restantes áreas educativas existem modelos variados. Teorias que se confrontam. Conclusões subjectivas. Ao educador compete apresentar, de acordo com o programa aprovado, as várias teses e torná-las disponíveis ao formando de forma a que este possa construir o seu próprio conhecimento. Há riscos de parcialidade do educador por um ou outro modelo? Claro. Mas isso é algo impossível de evitar. E que não nos deve paralisar.

Num outro momento e a propósito de filmes onde “...lá estão as regrazinhas todas morais a orientar, a orientar. Então com os filmes de crianças eu venho sistematicamente furiosa.” diz Gabriela Moita:

“ Quero passar-lhe (à filha de nove anos) de que existe um espartilho e que ele pode não ser usado mas também tenho presente que isso é uma opção dela. ... que seja escolha e não obrigação. Agora não posso impor um modelo e abertura, porque não se deve dizer a ninguém para onde deve ir.” Tudo correcto até aqui, mas de seguida diz:

“ Não tenho televisão em casa.... avariou-se.... A grande mudança foi com a minha filha que deixou de acordar às sete da manhã, ao sábado e ao domingo, para ver os bonecos animados. Às vezes, tínhamos um braço de ferro lá em casa também porque, ao fim de semana era difícil tirá-la lá de casa para andar de bicicleta ou andar de patins e agora já não é tanto”

Mas então e a opção da filha? Afinal deve ou não dizer-se para onde deve ir? E a escolha pelos bonecos? E a obrigação da bicicleta e dos patins? E a sonegação da televisão?

É pena que o registo tenha mudado. Incoerências de mãe. Discordâncias de família com a sexóloga.

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